Estamos em meados de julho e meus pensamentos se voltam para o voo 3054 da TAM. Dia
17 teremos o aniversário da tragédia. A tragédia ocorreu em 2007, já há quatro anos, quando o Airbus teve problemas ao tentar pousar no Aeroporto de Congonhas em São Paulo. Como
pode já haver passado quatro anos? Porem o tempo passa. Foram quatro anos desde que as condições de tempo, a pista de pouso mal conservada e um dos reversos inoperante , que associados, acabaram por causar o pior desfecho possível, ceifando 199 vidas. É claro que o número de vítimas vai muito além, pois cada vida perdida levou tambem sua respectiva família junto, mudando-as de forma permanente, deixando-as órfãs.
Quando vivenciamos a perda de entes queridos, feriados tornam-se verdadeiros pesadelos, substituindo cada celebração por dor e sofrimento. Esperamos que, para todas as
famílias, estes quatro anos possam ter aliviado a comoção original. Felizmente, as famílias
uniram-se e apoiaram-se mutuamente, permitindo que os sentimentos fossem expressos e
abrandados. Em alguns dias, como nos aniversários e feriados, sentiremos suas presenças ou
perda com maior intensidade. Tentaremos todos nos alegrar com suas memórias.
Alguns familiares e amigos reunir-se-ão para marcar a data. Outros não. Alguns optarão por não lembrar a data de sua perda. Após passarem-se quatro anos para que a dor inicial arrefeça-se, aqueles que ficaram terão lutado para voltar à normalidade e, a essa altura, já terão construído novas rotinas e novas formas de enfrentar os dias e noites. Eles seguem em frente, mas já não são os mesmos. E querendo ou não, reunindo-se, eles se lembram.
Eles não lembrarão o avião ou suas eventuais falhas mecânicas, a empresa aérea ou o aeroporto. Eles recordarão seus entes queridos, cuja ausência deixou um vazio em suas vidas.
Essas são famílias visitadas por fantasmas. Elas vêm fantasmas em suas cadeiras vazias, em suas salas vazias, no assento do carona vazio, no banco do motorista vazio. Ouvem murmúrios de palavras que não foram ditas. Se tiverem sorte, vêm o rosto de seus amados em estranhos.
Um rosto que se volta, o formato da parte posterior de uma cabeça. Vislumbres pungentes
quando eventualmente o coração se alegra por um instante e então reconhece… não, não é você.
As memórias perduram. Como rosas de verão durante um inverno, elas estão sempre conosco.
Pedacinhos de memórias ficam conosco em nossos bolsos, como conchas que encontramos
na praia, tesouros para serem guardados e apreciados. Temos sorte por termos isto.
Mas temos mais do que isso. As pessoas que amamos são parte de nós. Assim como parte de
nós se foi com eles, parte deles vive em cada um de nós.